O POVO BRASILEIRO

Darcy Ribeiro tem uma interpretação própria da formação do povo brasileiro a partir de três matrizes básicas: os índios que habitavam originalmente a terra, o europeu descobridor-colonizador (os portugueses) e os africanos escravizados. Nesse caldo cultural mais miscigenado do mundo, coexistem culturas tão diferentes entre si e dão origem a um povo e uma sociedade singular. Bons livros para ler

Quem são os brasileiros? Para respondermos a essa pergunta, temos que ir ao ponto central e, como todos aqueles que aprenderam História sabem, os índios encontrados no litoral foram principalmente de tronco Tupi. Somavam um milhão de índios divididos em dezenas de grupos tribais, cada um deles compreendendo várias aldeias de trezentos a dois mil habitantes. Podemos dizer que (em número) a população indígena era a mesma que a de Portugal.

Os povos indígenas eram estruturados autonomamente. No entanto, quando eles perceberam a chegada de europeus, viram como algo espantoso, mítico, algo enviado pelo Deus Sol, o criador. Esses recém-chegados, saídos do mar, eram feios, fétidos e infectos. Pouco mais tarde, essa visão idílica que os índios tinham dos novos visitantes se dissipa. A destruição das bases da vida social indígena, a negação de todos os seus valores, o despojo, o cativeiro, muitíssimos índios deitavam em suas redes e se deixavam morrer, como só eles têm o poder de fazer.

Para os “civilizados”, a vida era uma tarefa, uma sofrida obrigação, subordinada ao lucro. Condenados à tristeza, os índios cativos, sobretudo suas mulheres através do sexo, forneciam também as alegrias para os invasores. Frente a essa invasão, os índios defenderam até o limite possível seu modo de ser e de viver, principalmente depois de perderem as ilusões dos primeiros contatos pacíficos, quando perceberam que a submissão ao invasor representava sua desumanização como bestas de carga.

Os invasores trouxeram a coqueluche, a tuberculose e o sarampo. O encontro entre essas duas civilizações começa como uma guerra bacteriológica. De um lado, pessoas que viveram entre pestes, que sobreviveram e que desenvolveram resistência a doenças desse tipo. Do outro lado, pessoas indefesas, que morreram aos milhares pelas doenças trazidas. O encontro da civilização com os povos indígenas em um primeiro momento acontece através de pestes mortais e a dizimação.

“Os brasilíndios ou mamelucos paulistas foram vítimas de duas rejeições drásticas. A dos pais, com quem queriam identificar-se, mas que os viam como impuros filhos da terra, aproveitavam bem seu trabalho quando meninos e rapazes e, depois, os integravam a suas bandeiras, onde muitos deles fizeram carreira. A segunda rejeição era do gentio materno. Na concepção dos índios, a mulher é um simples saco em que o macho deposita a semente. Quem nasce é o filho do pai, e não da mãe, assim visto pelos índios. Não podendo identificar-se com uns nem com outros de seus ancestrais, que o rejeitavam, o mameluco caía numa terra de ninguém, a partir da qual constrói sua identidade de brasileiro.” (pg 82, pg 83)

Palavras Perdidas: Ópera IL Guarany – O Guarani, de Carlos GomesHistória não contada: AcreNorte Nordeste Me VesteLiteratura indígena: escritoras e escritores para você conhecer e ler!LITERATURA INDÍGENA: POR ONDE COMEÇAR?

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